Scalabrini



FAMÍLIA e VOCAÇÃO


    João Batista SCALABRINI nasceu no povoado de Fino Mornasse, perto da cidade de Como, a uns 80 km de Milão, Itália, no dia 8 de Julho de 1839. Seus pais eram Luís e Colomba. Tinham como valores fundamentais: a educação dos filhos, a prática religiosa e o trabalho. Tiveram 8 filhos.
    João Batista Scalabrini era o terceiro. Dedicou-se ao estudo. Percorria a pé, todas as semanas, os 10 km entre Fino Mornasse e Como. Desde cedo se distinguia pela sua inteligência e força de boa vontade.
    Com 18 anos completos, João Batista Scalabrini declarou que desejava ser sacerdote. Em outubro de 1857 ingressou no Seminário Santo Abôndio, na cidade de Como, para iniciar o estudo da filosofia. Alguns anos depois cursou os quatro anos de teologia. Em ambas as casas, teve a felicidade de encontrar um ambiente sadio, tanto por parte dos professores, como dos companheiros de estudo.


SACERDOTE, MISSIONÁRIO, REITOR e PÁROCO


    O diácono Scalabrini foi ordenado sacerdote, no dia 30 de maio de 1863, antes de completar 24 anos. Prestou a sua colaboração em diversas paróquias da diocese. Pouco a pouco, sentiu o forte desejo de ser missionário. Foi então que teve a ideia de ir para Milão, a fim de ingressar no "Pontifício Instituto das Missões Estrangeiras" (PIME), disposto a levar o Evangelho às regiões mais distantes da terra.
    O sonho missionário, porém, foi interrompido por seu bispo, Dom José Marzorati. Alimentando outros projetos para o Pe. Scalabrini, disse-lhe: "As tuas Índias são a Itália!".
    Retornou ao seminário, com a tarefa de vice-reitor e professor de história e de grego. Dedicou-se profundamente na missão de formar os futuros sacerdotes da diocese e também nas atividades pastorais e sociais.
    Interessou-se também pelos doentes, presos, surdo-mudos. E todos estes pobres chamavam Scalabrini de "Pai". Scalabrini proferir, na catedral de Como, 11 conferências sobre o Concílio Vaticano I. Foi um verdadeiro sucesso. Obtiveram tamanha ressonância que Scabrini enviou alguns exemplares ao Papa Pio IX, que o felicitou profusamente. Foi certamente um presságio de sua iminente nomeação episcopal.

BISPO


    O Pe. João Batista Scalabrini foi sagrado Bispo em Roma, no dia 30 de Janeiro de 1876. O Papa Pio IX presenteou-o com o báculo episcopal. No mesmo dia, Scalabrini escreveu ao seu povo a primeira carta, na qual manifestava como entendia e como assumia a nova responsabilidade na Igreja. "Não recusarei fadiga alguma, fazendo-me tudo para todos, a fim de ganhar todos a Cristo". O ingresso oficial na diocese de Placência aconteceu no dia 13 de Fevereiro. Scalabrini tinha 36 anos de idade.
    Scalabrini afirmou: "Sinto-me enviado, em primeiro lugar, aos mais pobres e abandonados!". Em 1895 disse: "Que maior alegria poderia haver do que ir ao encontro dos pobres, orientar os simples, libertar os oprimidos, enxugar as lágrimas dos aflitos, salvar as almas, fazer, enfim, um pouco de bem?".
    O novo Bispo despertava nas multidões a mais calorosa admiração. Organizou as Escolas de Catequese. Publicou a primeira revista catequética italiana. Realizou cinco visitas às 365 Paróquias da sua Diocese. Era incansável, seguindo o exemplo de seu protetor São Carlos Borromeu.



SCALABRINI: HOMEM DE DEUS
 

    Dom Scalabrini era um homem de muita oração. Ele mesmo dizia que a oração era "a parte mais viva, mais forte, mais poderosa do apostolado". Sua espiritualidade o levou a ser todo de Deus para ser "servo de todos".
     Tinha uma espiritualidade de encarnação para elevar à "divinização" a pessoa humana; uma espiritualidade eucarística, expressão máxima do amor encarnado; uma espiritualidade da comunhão, alimentada na devoção ao Crucificado, diante do qual exclamava: "Faze-me inebriar ela cruz!"; uma espiritualidade mariana. Seu amor a Maria se revelava em numerosas práticas devocionais e nas frequentes romarias aos santuários marianos.


VISITAS PASTORAIS


    O território da diocese de Piacenza era grande e formado, a metade, por montanhas e colinas e, a outra parte, por planícies. A população girava em torno dos 250.000 habitantes. As paróquias eram 365. Os sacerdotes chegavam a 795, dos quais 735 eram diocesanos e 60 religiosos.
    O coração de Scalabrini ardia do desejo de conhecer cada vez mais a sua gente. Desejava praticar as palavras de Cristo: "Conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas me conhecem". Foi deste amor que brotou a vontade de visitar cinco vezes a cavalo todas as 365 paróquias da diocese durante os trinta anos de episcopado.

A CATEQUESE


    Como pároco, Dom Scalabrini havia se preocupado muito com a catequese. Sua preocupação era que a catequese levasse não somente ao conhecimento de Cristo, mas, acima de tudo, à coerência de vida cristã, à formação de verdadeiros discípulos de Cristo, como na Igreja primitiva, diante de um mundo que estava se paganizando.
    Além de institucionalizar o ensino religioso para todas as etapas da vida, priorizou a formação dos mestres da catequese na condição de vocacionados leigos à evangelização. Isso suscitou tanto entusiasmo que ainda no primeiro ano os catequistas leigos eram 1.275 e alcançaram, mais tarde, quase 5.000.
    Em 1889, Dom Scalabrini celebrou em Piacenza o I Congresso nacional de catequese, do qual participaram onze bispos e 400 representantes das dioceses italianas.
    Tratou, entre outras coisas, da catequese para adultos, operários, noivos e estudantes das escolas superiores. Fundou a primeira revista catequética na Itália, segunda no mundo. Foi chamado pelo Papa Pio IX de "O apóstolo da Catequese".


SCALABRINI E OS MIGRANTES


    A época de Dom Scalabrini foi marcada por grandes transformações e dificuldades nos campos político, econômico e social. A industrialização deixou muita gente desempregada. O governo italiano mostrava-se despreparado para dar respostas às necessidades do povo. Para muita gente não havia outra alternativa a não ser: "roubar ou migrar", como se dizia.
    A partir da década de 1860 muitos italianos emigraram para outros países da Europa, como França, Alemanha e Suíça. Mas os problemas aumentavam e, a partir da década de 1880, os migrantes tomaram a direção das Américas. Eram multidões que partiam. Em 1888, por exemplo, 290.736 italianos deixaram a Itália; em 1900, foram 352.782; em 1906, partiram 787.977. Em 40 anos, mais de 16 milhões de italianos saíram de sua pátria.
    Mas o que chamava a atenção não eram só os números, mas as dificuldades, os sofrimentos, as humilhações e a exploração que os migrantes tinham de enfrentar na saída, durante a viagem, no desembarque e nos países de chegada. Tudo isso acontecia diante de um Estado que não tinha nenhuma Lei de migração e era incapaz de ir ao encontro dos problemas dos migrantes.


A SENSIBILIDADE DE SCALABRINI


    Dom Scalabrini, andando pelas paróquias, pelas estações de ferro e pelos portos, via, ouvia e falava com os migrantes. Eram cenas duras que o enchiam de tristeza e mexiam com seu coração de pastor. Recebia cartas de pessoas que tinham partido para a América. Uma pergunta o agitava dia e noite: "O que devo fazer?". Não ficou parado. Arregaçou as mangas e partiu para a ação. Eis algumas de suas iniciativas:
·         Ocupou-se dos migrantes internos e sazonais, e com aqueles que vinham para a colheita do arroz no Norte da Itália.
·         Em 1887, fundou a Congregação dos Missionários de São Carlos a serviço dos migrantes, e já em 1888 os enviou aos Estados Unidos e ao Brasil.
·         Em 1887, fundou a Sociedade São Rafael, uma associação de leigos cuja finalidade era o acompanhamento e a defesa dos migrantes nos portos de saída, na viagem e nos portos de chegada.
·         Em 1889, encorajou Santa Francisca Cabrini e suas irmãs a acompanhar os emigrantes nas Américas em vez de partir para a China.
·         Em 1895, fundou, com o Pe. Marchetti, a Congregação das Missionárias de São Carlos para o serviço dos migrantes. No mesmo ano elas vieram para o Brasil.
·         Em 1901, Scalabrini visitou os migrantes e as missões nos Estados Unidos.
·         Em 1904, Scalabrini visitou os migrantes e seus missionários nas missões do Brasil e passou rapidamente também por Buenos Aires.
·         Apresentou ao Papa Pio X um projeto para que fosse criado, a partir da Santa Sé, um Organismo para cuidar expressamente dos migrantes, o qual viria mais tarde a ser o Pontifício Conselho da Pastoral do Migrante.

NASCIMENTO PARA O CÉU


    Em dezembro de 1904, ao regressar do Brasil, concluiu a quinta visita pastoral e anunciou a sexta; começou a preparar o 2º Congresso Catequético Nacional. Contudo, as forças passaram a diminuir sensivelmente. "Sinto-me tão cansado, que me parece morrer!", confidenciava aos amigos.
    Em maio de 1905, os médicos tomaram a decisão de submetê-lo a uma urgente intervenção cirúrgica. No sábado, dia 27 de maio, Scalabrini se confessou e passou a noite em adoração diante da Eucaristia; em seguida, colocou-se nas mãos dos médicos. No dia 31, recebeu a unção dos enfermos e seguiu, com edificante devoção, as orações em preparação à boa morte. Sussurrou: "Senhor, estou pronto: partamos!". Nos momentos de delírio, repetia com ansiedade: "Onde estão os meus sacerdotes? Deixai-os entrar!"
    Na quinta-feira, dia 1º de junho, festa da Ascensão do Senhor, poucos minutos antes das 6 horas, João Batista Scalabrini entregou sua alma a Deus.



SCALABRINI, BEM-AVENTURADO


    No dia 09 de novembro de 1997, às 09h45min horas, o Papa João Paulo II, celebrou a Missa na Praça São Pedro do Vaticano, proclamando Bem-aventurado o Servo de Deus, Dom João Batista Scalabrini. Na ocasião ele disse: “Scalabrini, profundamente enamorado de Deus e extraordinariamente devoto da Eucaristia, soube traduzir a contemplação de Deus e do seu mistério numa grande ação apostólica e missionária, fazendo-se tudo para todos para anunciar o Evangelho”.
    Esta sua ardente paixão pelo Reino de Deus o fez zeloso na catequese, nas atividades pastorais e nas obras de caridade sobre tudo em favor dos mais necessitados. Pelo seu amor para com os pobres, e em particular, para com os migrantes, ele se fez o apóstolo de muita gente que foi obrigada sair de sua pátria, muitas vezes em condições muito difíceis e com o perigo de até perder a fé; dessa gente Scalabrini se tornou o pai e o guia firme. Podemos dizer que o Bem-aventurado João Batista Scalabrini viveu profundamente o mistério pascal, não através do martírio, mas servindo ao Cristo pobre e crucificado presente nos mais necessitados e sofredores que ele escolheu com um coração autêntico e solidário de Pastor, como seu rebanho.

Fonte:<http://www.escalabrinianos.com.br/nossofundador_centro.htm>

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